
E se do dia para noite seu projeto viralizasse? Tash e Tolstói é um livro juvenil de Kathryn Ormsbee em que a jovem Natasha “Tash” Zelenka, fã ferrenha de Leo Tolstói (na verdade, segundo ela, o Leo é o namorado dela), viraliza. Ela é diretora e roteirista de uma web série, junto com a melhor amiga Jack, chamada Famílias Infelizes: uma adaptação de Anna Karenina. Depois de uma vlogueira famosa indicar a web série em seu canal, as meninas tomam conta de internet e são indicadas ao Oscar da internet, a Tuba Dourada.
Só neste aspecto dá pra ver que o livro tem uma onda sobre tecnologia, criatividade, sonhos na adolescência. Kathryn explora também o ódio na internet, bem como o universo de fãs. Mas esse não é o foco.
Representatividade
Tash começa a conversar com um vlogueiro por quem ela tem uma queda e descobre que irá conhecê-lo pessoalmente na premiação. Mas há uma questão: como explicar que ela é assexual romântica?
Sim, Tash e Tolstói é um juvenil LGBTQIA+ e um livro com representatividade assexual: uma coisa muito difícil de se encontrar. No caso, Tash não se sente atraída sexualmente por ninguém, mas gostaria de ter um relacionamento romântico com Thom.
O universo ace (a palavra curta para assexual) é complexo para quem nunca entrou em contato com a existência disso na vida. Por isso é tão importante que mais pessoas escrevam e leiam estes personagens; muita gente passa a vida inteira sem entender por que não pensa sobre sexo da mesma forma que os outros.
No livro a gente mergulha em diversas reflexões de Tash, desde como ela descobriu até o como vai contar para os amigos e o crush. Existe aceitação e, também, preconceito (não é muito pesada a cena, mas ela está lá, com bastante acefobia). Entendemos o sofrimento e a dúvida: será que alguém algum dia vai querer ficar com Tash, já que ela não vai querer o que os garotos querem?
É não só representação assexual, é BOA representação! Além disso, há personagens secundários gay e bi.
Questões familiares e de decisões da adolescência
Em Tash e Tolstói a Kathryn também colocou algumas questões familiares que vêm com a fase em que os adolescentes estão se formando, decidindo seus futuros e partindo. O ninho vazio, relacionamentos à distância e até lidar com problemas de saúde em família: tudo está lá e, de alguma forma, Kathryn aborda esses temas de um jeito leve.
A família Zelenka por si só é cheia de variedade: Tash e sua mãe são vegetarianas; a mãe é budista e neozelandesa, o pai é filho de tchecos e o cozinheiro da família, a irmã mais velha é ateísta e vai estudar em uma universidade cara com bolsa integral. Eles são cheios de história e personalidade e você acredita em sua existência.
Uma coisa muito legal é o contraste do relacionamento entre irmãos. De um lado, temos Jack e Paul: tão incrivelmente próximos que fazem tudo junto e são inseparáveis de Tash. De outro, Tash e sua irmã, que entram em vários conflitos por suas diferenças até entenderem o que realmente importa.
Por que ler Tash e Tolstói?
Eu amei a Tash. Somos parecidas em muitas coisas. Os gostos dela, os sonhos, a amizade dela com os vizinhos e os outros membros da web série… até o vegetarianismo!
O livro não é sobre Youtubers ou assexualidade. Estes são acasos na história. O enredo é sobre relacionamentos, sobre o apoio da família e sobre sonhar. A grande questão é entender que o tempo passa e temos que decidir o que vamos fazer a respeito de quem está perto de nós e do que queremos para nosso futuro. É sobre arte, perdão, e amor.
E, por fim, é sobre entender que, afinal, heróis mortos com reputação duvidosa não devem ser o resumo e foco de nossa existência; crescer é saber que precisamos sonhar alto com o pé no chão.
Tash e Tolstói é um livro leve, com personagens cativantes e perfeito para se divertir em um fim de semana gostoso com café e um cobertor.

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Letícia Wilhelm
Escritora, formada em Letras e professora de língua inglesa. Gostaria de rodar o mundo e, mais ainda, criar um próprio para que outros possam visita-lo. Curte observar as pequenas coisas da vida e às vezes contá-las em histórias. Gosta de café e chocolate, de ver a chuva caindo e das tardes laranjas de outono.